quinta-feira, 29 de março de 2012

Novos olhos...

Parece até se tratar de negligência, mas na verdade foi só por conta de uma dificuldade para me reorganizar. Há tempos quero trocar o meu óculos, que estava mais que vencido e arranhado. Para quem esperou anos, um dia a mais ou um a menos, tanto faz. Mas, nesse caso, os dias pareciam estender-se, castigando-me de forma grotesca. Tirei aquele objeto inanimado do rosto, uma extensão psicológica do meu corpo, e o substituí por algo mais discreto. As cores se apresentaram vivas e os traços ásperos. A rigidez da imagem capturada me libertava da caverna de Platão que habitei durante todo esse tempo.

A sensação é de que o mundo se compactou em detalhes antes inexistentes. Com ajuda daquela nova camada no meu globo ocular, pude perceber o quanto estava cego. As cores, as peças desse mosaico visual, expressões faciais... Conseguia ver tudo o que antes era camuflado pela censura da miopia. Onde antes via verde, agora via as peças que construíam a vida vegetal. Cada folha tinha um papel crucial na formação da árvore. Na rua, caminhei entre personagens que antes eram figurantes. Olhei nos olhos e pesquisei esboços. Como ligar o farol auto e ver o futuro inalcançado. As luzes dos carros pincelavam aquela noite nostálgica.

Reparei na beleza do cotidiano e tentei proporcionar a mesma visão aos que estavam cegos como eu e perderam o conceito de percepção. Alguns sorriram, outros somente ouviram por respeito. Para quem nunca saiu da caverna é um pouco utópico ver e crer no mundo promissor.

Nenhum comentário: