segunda-feira, 12 de junho de 2017

O cartão e o bilhete...



A campainha tocou e a empregada correu para abrir a porta, afinal, a patroa reclama sempre após o segundo toque. Já sabia o discurso até de cor: "A pessoa que trabalhou antes de você foi demitida porque um convidado meu tocou cinco vezes e ninguém abriu. Não arrisque para ver, hein mocinha", dizia a madame com desprezo. 

Do lado de fora, deparou com um entregador escondido atrás de um grande buquê de rosas:

- Senhora Ana Ricof? - Perguntou o senhor tentando vê-la por cima das flores.

A dona da casa apareceu de repente:

- Sou eu! Sou eu! - Disse empurrando a funcionária.

A patroa pegou o grande presente e entrou saltitante. Antes de fechar a porta, a empregada cumprimentou o entregador, que cochichou:

- Você é a Antônia?

- Sim! Sou eu - respondeu surpresa.

- Também tenho uma entrega pra você - revelou estendendo a mão com um pedaço de papel amaçado.

Na sala, D. Ana lia o cartão elegante com detalhes dourados e uma letra feminina: "Estou em uma viagem de trabalho e pedi para minha secretária escolher um presente para você. Feliz Dia dos Namorados". O silêncio da patroa descreveu a frustração.

Já na cozinha, Antônia abria o bilhete improvisado em uma folha de caderno: "Queria apenas dizer que te amo. Saudades". O brilho no olhar narrava uma história de amor correspondida.

A cozinheira percebeu o suspiro alheio:

- Oxe, menina! Que sorriso bobo é esse ai? Posso saber o motivo?

A empregada apenas guardou o bilhete e afirmou:

- Eu apenas ganhei um presente da vida que nenhum dinheiro no mundo é capaz de comprar.

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