quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Azul ou vermelho?

Era uma escolha simples: ou o azul, ou o vermelho. Um corte preciso que desarmaria ou detonaria aquela bomba artesanal. A pressão aumentava com um sussurrar no ouvido de um fone. Todos tinham pressa em acabar com aquela agonia e ir para casa curtir mais um episódio do The Voice Brasil, mas não dava para abandonar o cargo sem fazer aquela complexa escolha.

Aquele desviar de foco lhe custou vinte segundos. Nada de pensar no The Voice. Era preciso mais concentração naquela situação tão complicada. Não cabia um sensacionalismo como em programa de televisão. A escolha tinha que ser feita. Algo o incomodava extremamente: nunca foi bom em fazer escolhas. Lembrou do silêncio na igreja quando a noiva e o padre esperava o seu sim. Veio a mente as reclamações na fila do caixa quanto a atendente perguntou qual molho queria na refeição. Escolhas eram necessárias, mas ele odiava a pressão de dar a palavra final. E se o outro molho fosse mais gostoso? E se escolhesse errado?

O molho do fast food lhe custou trinta e cinco segundos. A contagem regressiva fazia o experiente agente temer cada barulhinho digital feito pela bomba. Tinha apenas quinze segundos para fazer a escolha. Azul ou vermelho? Talvez o mais bonito. Suas cores favoritas eram o roxo e o lilás, resultado da mistura das duas cores em questão. A dúvida continuava. Quase cortou o azul, mas lembrou que era a cor favorita da sogra e podia dar azar. Optou por cortar o vermelho, mas lembrou que rubro simbolizava advertência. Atenção, como um jurado escolhendo quem seria o vencedor da disputa musical. Talvez o Lulu Santos já tenha sentido tal ansiedade extrema. Tenha enxugado o rosto por conta do suor involuntário. 

O Lulu lhe custou quinze segundos e a bomba explodiu. O eliminado daquela noite foi aquele agente indeciso. Sem ter tempo de arriscar em uma das opções, restou a aquela alma apenas pensar: por que não cortei logo os dois fios de uma vez?

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