Não sei dizer se foi uma prosa de amigos ou estrofes de colegas, mas o reencontrei em um estacionamento e batemos um papo meio indelicado:
- A crise está feia, hein!
Fiquei em silêncio, mas percebi o desagrado alheio. Para fugir da definição de mal-educado, dei uma resposta tão vazia quanto a afirmação:
- Pois é! Faz parte...
Para mim, o assunto da conversa estava concluído, mas ele prosseguiu:
- Aqui na minha carteira antes tinha nota de cem, agora só tem nota de quinze ou de cinco.
Não resisti a deixa que me deu para um corte de vôlei certeiro:
- Não seria nota de dez ou de vinte? Não existe nota de quinze.
Ele sorriu desconcertado:
- É que na minha carteira só tem nota fiscal mesmo. Estou sem grana por completo.
Foi a minha vez de sorrir e só parei ao perceber que ele realmente estava falando a verdade. O silêncio garantiu o clima cafona da conversa, que, se fosse um poema, se resumiria a um verso:
- Você pode me emprestar umas moedas? É para pagar o flanelinha?
Era estranho ver aquele homem de terno me pedindo dinheiro, mas busquei nos bolsos um trocado para aquele amigo indelicado. A busca resultou em duas balas de hortelã, chaves e uma nota fiscal amassada:
- Poxa! Acho que vou ficar devendo. Tô sem grana aqui.
- Eu aceito as balinhas! - Gritou uma terceira voz.
Era o flanelinha, que tomou as duas balas da minha mão e partiu. Meu amigo indiscreto me olhou assustado e prosseguiu com seu assunto indelicado:
- A crise está feia, hein!
- Pois é! - Respondi ainda pálido por conta da situação bizarra - Faz parte...
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