sexta-feira, 12 de setembro de 2008

O "próximo"...

Leoni aprendeu cedo, aos cinco anos já jogava o lápis no chão da sala só pra olhar debaixo das saias alheias. Nunca se importou com o estado civil das garotas. Tinha sua própria filosofia. Conhecia os mandamentos. Sabia que não podia desejar a mulher do próximo, por isso sempre que começava a desejar alguma ele a tinha para não pecar. Ou então esperava o próximo ficar distante e então atacava.

Uma dessas vítimas foi Flávia. Ela deixou o namorado por ele. Sua família porém não gostou. Mandaram para o exterior e eles nunca mais se viram. Sandra teve mais sorte. Seu marido chegou mais cedo e ela jogou Leoni no guarda-roupa, que não perdeu tempo e pintou a cara com graxa de sapato. Quando o homem foi guardar o terno a mulher abaixou a cabeça:

-Mas o que significa isso?

Leoni saltou sobre o marido de Sandra e tapou sua boca:

-Não fale tão alto. Quer que eles ouçam?

-Quem é você?

-João Adelardo de Andrade, do 13° Batalhão de Serviços Secretos do Exército. A conhecida SSC.

-SSC?

-É. A força armada que garante a defesa do território brasileiro contra qualquer tipo de terrorismo.

-E onde está sua arma? Por que está só de cueca?

-Nós da SSC passamos por um treinamento intensivo. Aprendemos a usar as mãos no lugar das armas. Conhecemos a arte da camuflagem, por isso estou de cueca.

-E por que está na minha casa?

-Vim em uma missão... Trago uma mensagem confidencial.

-Pra mim?

-É.

Leoni abriu um papel que estava no armário. Era uma lista de compras. Ele fingiu estar lendo:

-Perigo, mandei esse soldado...

-O marido arrancou o papel de suas mãos:

-Bombril, papel higiênico, feijão, arroz... Que isso?

-Pra você é difícil entender. Está em código. Sempre disfarçamos a mensagem para que pareça algo do cotidiano. Deixe-me decifrar.

Ele pegou o papel de volta:

-Hãm... Aqui diz: Sr. Leoni Mattos, perigo. Mandei esse sold...

-Pera aê! Meu nome não é Leoni. Eu sou o Geraldo.

-Geraldo?

-É! E eu não faço a mínima idéia de quem é esse cara.

Leoni pôs o dedo no ouvido direito e começou a gritar:

-Atenção, atenção SSC. Alvo errado. Cancelar missão, repito, cancelar missão!

O marido tentou impedi-lo de sair do apartamento, mas um caminhão de lixo passou bem na hora fazendo um barulho ensurdecedor:

-No chão, todo mundo! São eles!

-Eles quem?

-Não há tempo para explicações. Fiquem escondidos debaixo da mesa!

Ele se aproximou da janela e voltou a gritar:

-Atenção SSC. São dois. Dois helicópteros.

-Então é verdade?

-É claro! O que você achava? Que eu era um amante da sua mulher e estava inventando tudo?

Leoni pediu que permanecessem lá, pediu desculpas pelo mal-entendido e foi embora.
Os dois continuaram casados por muito tempo. O marido até quis entrar para a SSC e ser soldado, mas não lembrava bem o significado das siglas. Todos diziam que Geraldo era corno, mas ele era apenas... Patriota.

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