quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Discussão insana sobre o verbo flatular

Fábio entrou em casa furioso pegando Júlia de surpresa:

-Que foi, amor?

Ele não respondeu a sua mulher e foi para o quarto. Júlia o seguiu:

-Amor? O que aconteceu?

-Não me chame de amor - Respondeu com grosseria. Você não merece!

-Por que está tão nervoso?

-Sei que você não me ama.

-Como é? Tá biruta?

-Não. Só descobri o lógico.

-De onde tirou essa idéia idiota?

-Só juntei os fatos.

-Que fatos?

-Os fatos.

-Fábio. Você andou bebendo de novo?

-Não. É que eu tenho observado a gente em relação a outros casais. Vi que não há sentido em vivermos juntos.

Júlia colocou a mão na testa do marido para averiguar se tinha febre. Ele esquivou:

-Não estou doente! Só sensato.

-Então ficou maluco. Nós somos o casal mais perfeito do bairro.

-Era o que eu pensava, mas me enganei.

Fábio arrumou as malas e chamou um táxi. Na porta de casa. Encarou a mulher com os olhos cheios d'água:

-Posso fazer uma pergunta?

-Pode - Respondeu Júlia, também comovida com aquela despedida- Até duas.

-Você realmente me amava quando nos casamos?

Ela sorriu e tirou as lágrimas dos olhos:

-Amei e sempre amarei.

Ele abaixou a cabeça e chorou:

-Então, unf, por que nunca peidou na minha frente?

-O quê?

-Só quero saber por que nunca soltou um pum na minha presença.

-Eu?

-É. Você.

-Tá brincando, né?

-Não.

-Fala logo. Tá brincando.

-Não, eu não estou brincando.

-Tá brincando quando diz que não está brincando?

-Não. Isso é sério. O Felipe peida na frente da mulher dele, a Isabel flatula na frente do João, o Tiago e a Ana fazem até concurso de flatulação e você nada. Nem um punzinho. Quando senti aquele dia um fedor e te perguntei, tu negou até a morte. Dois anos de casamento e nem um peidinho mísero. Nem um pum mixuruca. Isso mostra o quanto a nossa relação está em crise.

-Vamos acabar com nosso casamento por causa de uns puns?

-Não. Pela ausência deles. Você tem vergonha de mim.

-Não tenho.

-Tem sim.

-Não tenho e nunca tive.

-Então prova.

-O quê?

-Prova.

-Eu não vou soltar gases durante uma discussão familiar.

-Viu? Você tem vergonha.

-Tenho nada.

-Então por que não faz?

-É que... Eu não estou com vontade agora.

Fábio foi abrindo a porta:

-Espera! Tá bom. Eu vou tentar.

Julia fez uma pose como se estivesse andando a cavalo. Começou a tremer. Seu casamento estava em risco. Estava tudo em suas mãos, ou em seu intestino. Estava suando. Deu um grito e caiu de joelhos. Conseguiu o que queria. Alcançou seu objetivo. Foi silencioso e rápido, mas era o bastante para salvar seu estado conjugal:

-E então? Satisfeito?

-Sim.

Os dois se abraçaram:

-Isso me lembra uma coisa. Você também nunca flatulou na minha frente.

Eles se afastaram:

-Isso não é verdade.

-Então prova.

-O quê?

-Vai logo. Peida aí.

-Do nada?

-Do nada.

-Tá bom.

O marido não se esforçou muito. Levantou a perna direita e liberou um som forte e agressivo, seguido por um cheiro desagradável:

-E então? Satisfeita?

Ela tampou o nariz e virou a cara, ventilando com a outra mão ao redor:

-Agora eu sei porque você nunca peidou na minha frente!

Ela o empurrou até o táxi, o obrigou a entrar e ligou para o advogado para acelerar o processo de divórcio.

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