sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Crônicas de bagagem - Parte 1

Peguei minha mochila de viagens no chão. Ela estava vazia e juntando poeira no canto do quarto. Abri os bolsos na intensão de encontrar um aparelho medicinal. Não encontrei nenhum termômetro digital lá, mas achei um museu, coisas que estavam lá desde a minha ultima viagem.

Sentei na cama e comecei a explorar aquele momento esquecido. As duas cartelas de remédio confirmavam o diagnóstico prévio à viagem. Lembro-me da certeza. Eu estava firme: Iria a Bienal Internacional de São Paulo. Consultei meu amigo Google e vi mapas, endereços, hotéis e até mesmo programações do evento. Tive crises de enxaqueca e até febre a menos de dois dias da nova aventura. O kit de medicamentos era para garantir minha resistência lá.

O bolso da frente era um compartimento de biscoito recheado. Sentado no aeroporto abri um dos primeiros para acelerar o tempo. Entrei em um corredor, indicado por uma voz que invadiu o salão. Lembro que ouvia no fone de ouvido uma música que marcou o momento: Era "Paciência", do Lenine. Um ônibus nos levou até uma grande máquina, responsável por nos transportar de forma mágica. Dentro do avião coloquei os cintos e esperei ansioso. A janela redonda e pequena me mantia conectado ao mundo. Os riscos no asfalto se movimentavam com mais agilidade. Fixei as mãos sobre o apoio da poltrona e fechei os olhos. As rodas não sentiam mais o chão do aeroporto. Me sentia leve. Pela janela via um cenário conhecido diminuindo e dando espaço para o desconhecido. Apartir daquele momento tudo era novidade.

Não conseguia apoiar a cabeça e relaxar. Continuava ligado a janela de forma mística. Cada fileira do avião tinha seis poltronas dividida apenas pelo corredor central. As aeromoças começaram a servir o lanche de trás para frente, o que me deu um atendimento prioritário. O assento ao meu lado permanecia vazio e no corredor uma garota lia um livro, não me lembro de nomes, mas era da Canção Nova. Bia. Recordo desse nome. Perguntei como fazia para chegar ao metrô e ela relatou-me. Conheci um pouco da história dela e ela da minha. Na saida a encontrei com o pai. Me desejou boa sorte, eu iria precisar.

O aeroporto me parecia um local familiar pelo seu padrão. Caminhei guiado pelas indicações das placas no teto. Um frio me fez sofrer um choque, mesmo com o ar condicionado do avião. Era São Paulo me dando as boasvindas através de um vento de 9ºC.

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