domingo, 2 de abril de 2017

Pobres novos pobres...


***Atenção: este texto contém ironia


Um estudo inédito do Banco Mundial, noticiado pelo jornal O Globo, apontou uma coisa bem assustadora: o número de pessoas vivendo na pobreza no Brasil aumentará entre 2,5 milhões e 3,6 milhões até o fim deste ano. Para que se tenha uma noção, este número é maior que a quantidade de habitantes na Faixa de Gaza, que atualmente supera os 2 milhões.

Nunca foi à Faixa de Gaza? É! Acho que este não foi o melhor exemplo. Digamos que equivale a quantidade de pessoas que se reúnem no réveillon de Copacabana para ver a queima de fogos, segundo dados da Riotur. 

No estudo, eles são denominados pelo Banco Mundial como “novos pobres” e são, na maioria, adultos jovens, de áreas urbanas, com escolaridade média e que foram expulsos do mercado de trabalho formal pelo desemprego:

- Nossa! Que notícia assustadora! - Disse Alexandre enquanto tomava mais um gole de vinho.

- É! O mundo está em crise - Respondeu o mordomo enquanto preparava o próximo taco de golfe que o patrão utilizaria.

Alexandre cheirou o copo com elegância e depois virou-o como um bêbado toma cachaça. Depois de toda cerimônia, o jovem pegou o taco e se preparou para arremessar a bola com glamour. Antes, percebeu que o mordomo estava apreensivo:

- O que aconteceu? Esta sua cara aflita está atrapalhando na minha jogada.

- Não sei como dizer isso, senhor, mas preciso te contar uma coisa.

Pela tonalidade do funcionário, logo percebeu a seriedade do assunto:

- Pois diga logo antes que eu conclua a tacada! - Exclamou ainda se posicionando para finalizar o movimento atlético.

- Sabe esta notícia que o senhor comentou? Pois é! Eu sou um dos "novos pobres".

A afirmação chocou o patrão:

- Mas como isto é possível?

- Meus quatro filhos estão desempregados e, com o salário que o seu pai me paga, ficamos no aperto.

- Não exagere! Não sei o porquê de tanto drama. Vou falar com o meu pai e ele contrata seus filhos para fazer algo aqui na nossa mansão - comentou enquanto levantava o taco com precisão.

- Acho muito difícil, senhor! Já que a situação aqui também não está das melhores.

A tacada lançou apenas um pedaço de grama, mantendo a bola intacta:

- O que vocês quer dizer com isso?

- Sabe aquelas ações que o seu pai comprou? Elas despencaram e a empresa dele está em crise. Possivelmente, vocês também estarão entre os 2,5 milhões de "novos pobres" até dezembro.

- Isto é impossível! E se fosse verdade, meu pai pediria dinheiro emprestado para o meu avô e se reergueria. 

O mordomo tentou segurar o sorriso:

- Seu avô? Perdoe-me pela sinceridade, senhor, mas aquele pobre idoso também está em crise por conta de gasto com plano de saúde e remédios. Com os reajustes na previdência, ele só deve se aposentar daqui a dez anos. Enfim, certamente será um dos "novos pobres" até o final deste ano.

- Não pode ser! Eu não posso ficar pobre! O que os meus amigos vão pensar de mim?

- Se o senhor se refere a aqueles filhinhos de papai que te bajulam com frequência, não se preocupe. Eles também estão quebrados e não devem passar das férias do meio do ano. Todos estão entre os 2,5 milhões do estudo.

O jovem deixou o taco escorregar entre os dedos e cair no chão. Precisou de alguns minutos para digerir as informações recebidas:

- Mas não se preocupe, senhor. O governo brasileiro já pensou em tudo e tomou precauções após verem o estudo do Banco Mundial. 

O mordomo entregou para o rapaz uma cartilha, que trazia um passo a passo de como se tornar um "novo pobre". O jovem se entregou aos prantos e o empregado pensou: "Pobre menino". Ou seria "Pobre menino pobre"?

Obviamente, seria bem mais divertido fazer parte dos 2,5 milhões do réveillon de Copacabana, mas...

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