quarta-feira, 12 de maio de 2010

A canção que era minha e sua...

Ele deitou na cama, olhou para o teto branco e respirou fundo. Os sons do apartamento pareciam cutucar sua alma como uma agulha. Esticou o braço e alcançou um fone de ouvido. Ao puxá-lo um pequeno aparelho o acompanhou. Um clique deu vida a aquele objeto, os fios ligados aos ouvidos tornaram reais aquelas vibrações invisíveis.

Ao fechar os olhos aquele céu branco de concreto sumiu. Os sons do prédio se extinguiram. Só ouvia aquele dedilhado de violão. Aquele colchão tornou-se mais macio, leve ao ponto de não existir. Não estava assustado, sentia liberdade. A sensação de queda livre não o motivou a abrir os olhos, pelo contrário, sentia o vento, sentia a transparência de cada timbre.

A canção o envolvia. Músculos relaxados. Até a respiração parecia seguir a melodia. Ele não abriu os olhos, mas a viu. Seu sorriso continuava vivo como aquela música. Ela o acolhia com um abraço e ele podia sentir o perfume. Aquela canção estimulava seus sentidos.
Aquela voz feminina não era a dela, mas aquele conjunto de notas em sincronia perfeita era. Suas carícias o carregavam pelo ar. Flutuava sem medo. Não existia tempo, não criaram o espaço. Eram só ele e ela.

As pulsações seguiam após o isolamento do ritmo. Sentiu o lençol, sentiu novamente a cama. Suspirou e olhou ao redor. Encontrou ela no porta-retrato, os sons cutucavam sua alma. Deitou novamente e ajustou o fone no ouvido. Ele apertou o play e fechou os olhos.

2 comentários:

Dani Salazar disse...

nossa que...lindo! é sutil, é doce, terno.faz sorrir...

Nay Sousa disse...

Me identifiquei demais com esse escrito. Em várias ocasiões eu mergulho através da música por uma realidade nunca inventada, apenas sonhada. Parabéns pela superação e continue sempre assim. O mundo precisa de escritores que transpassem sussurros da alma, tal como você faz.