domingo, 8 de agosto de 2010

Recordações paternas...

Lembro-me bem de tê-lo ao lado sempre. Quando ia sair para a escola e ele me parava pra dar a bênção:

-Menino! Que cabelo é esse! Vai pentiar isso aí!

Não era na época da discoteca, não sou tão velho. Mas aquele Black Power que me acompanhava e não conhecia o pente pessoalmente era sempre motivo de atenção. Eu atravessava o galpão novamente e meu pai voltava a soldar em sua árdua profissão.

Acordava com o som de Pe Zezinho ou Zé Ramalho nos finais de semana, andava na direção da sala e o encontrava sentado no tapete rodeado de várias fitas cassete no chão:

-Já acordou, meu filho?

O que ele não notava é que não dava pra continuar aquele sonho sagrado após ele ligar o som alto.

Ele nunca levantou a mão pra mim, talvez por notar que crescia mais que as crianças da minha idade e podia ficar maior que ele. A verdade é que ele tinha uma moral sobre mim. Me olhava com cara de mal e eu já estremecia.

Tenho milhares de lembranças dele que virariam clássicos da literatura, mas prefiro olhá-los como recordações e não como fatos escritos. Ele é cientista, artista e humorista. Em algum lugar sei que ele está comentando meu livro como se fosse um neto. Meu pai é um divulgador de idéias.

Nenhum comentário: