sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Crônicas de bagagem - Parte 3

Recordo da caminhada de vinte minutos, entre o hotel e o Anhembi. São Paulo parecia bela, mesmo sendo domingo. Já eram umas cinco da tarde, não passei nem uma hora para me arrumar. Tomei remédios e me agasalhei. O frio deixava a caminhada tranquila.

Lá estava um jovem explorador na frente da Bienal Internacional de São Paulo. Peguei o meu crachá, escritores não pagavam entrada. O espaço era gigantesco com várias fileiras e vários stands, muita coisa para ver. Caminhei analisando todas as editoras expostas. Em uma mesa a poucos passos de mim estava Ziraldo dando autógrafos. Seria eu um menino maluquinho sem a panela na cabeça?

Peguei um jornal na gaveta e juntei aos objetos encontrados na mochila quase abandonada. Reli a programação. Se eu tivesse chegado pela manhã encontraria Ari Toledo e André Vianco. Cheguei a um stand especial, o XXX. Entrei e olhei na estante um livro exposto. Sua capa laranja chamava a atenção dentre tantos outros. Um pensador sentado no vaso. Quem seria irônico e maluco a esse ponto? Dei um sorriso discreto. Uma mocinha com um olhar tímido escondido por um óculos me abordou de forma carinhosa:

-Gostou do livro?

-Na verdade eu sou o autor, estou agendado para às oito da noite.

-Você é o Arisson?

-Isso mesmo, sou eu.

A garota interrompeu a conversa da mãe discretamente e explicou o fato. Ela finalizou o assunto e me cumprimentou sorridente:

-Então você é o Arisson. Já estava preocupada. Pensei que não viria.

Ela desocupou um espaço em uma mesa de vidro e deixou amostra vários livros laranjas. Ela olhou para a minha camisa:

-Também quero uma dessas.

A blusa era especial, utilizada no dia do lançamento do livro. A imagem no centro é a capa da obra. Ela me entrevistou com um equipamento de filmagem sofisticado e me deixou avontade.

Estava com fome, os biscoitos recheados não me trouxeram satisfação. Abri a carteira e vi apenas dez reais. Perguntei então a um comerciante da praça de alimentação da Bienal se aceitava o vale refeição, ele confirmiu e eu pedi o primeiro açaí de vários que tomei naquela viagem.

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