segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Chakras...

No pulso uma fita vermelha envolvia meu braço como feita de Kryptonita. A fúria sobre os pedais e fone no ouvido me isolavam do mundo. Descarregava a mágoa em gritos que não eram meus, eram do Chris Cornell. O toque da bateria era a batida de coração que pulsava ondas sonoras através daqueles fios. Pedalava sem sair do lugar tendo como cenário apenas o meu quarto. Aumentei a marcha da bicicleta.

O porquê da fúria era místico. Fechei os olhos e fui me distanciando do mundo. Não queria mais viver preso a este corpo. O quarto virou um porão e eu o fantasma da ópera lá escondido. A raiva virava gotas de suor escorrendo pelo braço. A faixa acabou e abri os olhos durante o silêncio cedido. Ainda estava naquela caixa, enjaulado. Mas algo estava errado. Percebi que não eram os insultos que me abalaram, mas o sabor da verdade neles contido. O problema era eu.

A primeira venda que tirei foi a da insegurança. Sempre fui aventureiro, mas estava realmente vazio. A falta de amor me transformou em alguém fechado para novos romances e adrenalinas. Percebi o quanto estava distante e fui voltando aos poucos. Estava tranquilo e sem tensões. Pedalar me dava um conforto, um certo prazer. Estava livre da segunda venda.

Cheguei a Manipura e percebi que meu ódio de mim me deixara oco. Tinha parado meus projetos, a um bom tempo não escrevia sobre humor. Como se a chama se apagasse dentro de mim. Uma música mais serena me deixou os músculos relaxados. Observei o cenário da minha viagem e reparei um livro na estante. Pude ouvir uma pessoa apresentando o humorista Arisson O grande e uma platéia aplaudindo. Aumentei a marcha e pedalei mais forte. Duas vendas cairam.

Minha voz finalmente saiu, estava cantarolando uma das últimas canções do CD do Audioslave. A criatividade voltara. Com a queda de mais uma venda pude usar os olhos realmente, parecia que era a primeira vez que os abria de verdade. Via palavras, um texto diferente. Olhei para o violão e fiz um dedilhado no guidon. Minha alma estava de volta ao meu corpo.

Olhei para os meus ombros e vi laços me envolvendo ao mundo. Vários fios me ligavam a pessoas. Pude perceber quantos sorrisos e quantas pessoas eram ligadas a mim. Lembrei dos projetos sociais antigos e da forma que o humor penetrava as mentes mais fechadas. Eram milhares de fios, pessoas que só vi uma vez na vida e a importância de um simples ato. Estava curado. Abri a conciência para o infinito e lembrei de um sagrado voto de crisma que servirá para toda a minha vida: Que o sentido da minha vida seja dar sentido a vida dos outros.

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