sexta-feira, 18 de março de 2011

Momentos da época de ensino médio...

Caiu uma chuva intensa no DF, ao ponto de deixar um engarrafamento infernal em todas as vias de Brasília. Finalmente cheguei ao Núcleo Bandeirante, um percurso de cerca de 30 minutos que durou mais de duas horas. Sofri um choque térmico ao sair do ônibus abafado pelas janelas fechadas e corri buscando um abrigo contra a chuva. Após chegar ao local desejado e cumprir meu objetivo, comecei uma caminhada rumo à parada, mas a chuva não me permitiu prosseguir e busquei refúgio no meu antigo colégio.

Cursei meu ensino médio no CEMNB e agora outros integrantes da família passam por lá. Já era noite e sabia que o meu irmão estaria lá. As surpresas começaram quando terminamos a conversa pelo celular e eu passei pela portaria. Após uma descarga elétrica uma explosão aconteceu em um poste a três metros de distância de mim. Só tive tempo de ver as faíscas e correr. Foram três explosões e acompanhei a última de longe. Os alunos, que foram para a aula mesmo com a chuva, gritavam e davam gargalhadas. A escuridão reinava.

Cheguei ao pátio e sentei em um palco que ficava nessa área coberta. Um raio clareou o local e reparei em uma cortina junto a parede que dava um ar de teatro, coisa que não tinha quando eu estudava lá. O Centro de Ensino Médio do Núcleo Bandeirante fez 48 anos no dia anterior. Aquele palco me trouxe recordações boas. Lembrei da banda formada pelos professores tocando no Dia do Estudante. O escuro ajudava, parecia que eu me via no canto do pátio. Eles tocavam a música "No, woman don't cry":

-Agora essa música aqui é um de vocês que vão cantar em - Comentava um dos professores da banda.

-É hora de alguém pagar vexa. Puts - Dizia um amigo ao meu lado sorrindo - Essa eu quero ver.

O pátio estava consideravelmente cheio de alunos. O professor, que hoje subiu para o cargo de diretor, olhou para mim:

-Não. Não. Eu não - Eu sussurrava olhando para os lados.

Olhei novamente para o palco para ver se a busca havia terminado e dei de cara com um dedo apontando para mim:

-Você. O grandão. Sobe aqui.

Meu amigo me empurrava e a platéia sorria e comentava em cochichos:

-Eu? Mas por que eu?

-Vai lá, Arisson. Canta a nossa versão - Comentava ele me acompanhando até mais próximo para ter certeza de que eu não fugiria.

Subi e encarei os olhares curiosos. Segurei o microfone e pensei: o que é um pum para quem já está cagado? Vamos lá. Vou cantar a versão que inventamos nas rodas de viola. Seja o que Deus quiser:

-Vooou, vou reprovaaar... Vooou, vou reprovaaar...

Alguns trocavam olhares e sorriam. Outros puxavam palmas ritmadas. Cada um tinha uma reação, mas todos aprovaram. O principal problema naquele momento é que essa versão só tinha refrão. Não me pergunte como ou o que me inspirou porque não saberei responder. O que sei é que me animei e comecei a criar rimas na qual depois me pediram a letra e eu não fazia a mínima ideia do que tinha dito. O público gritava, assobiava e cantou junto quando o refrão chegou. O guitarrista e o baixista interagiram e pararam as notas. Eu animava a galera e eram apenas nós em coro e a bateria. Momento inesquecível e que infelizmente não tenho registrado. A pausa dos dois músicos parou e um deles fez a base vocal enquanto eu fazia uns efeitos sonoros estilo cantor de MPB. Assumo, estava me achando "o cara".

O som intenso do trovão me fez retomar a conciência. Estava todo molhado, cansado e no escuro, mas abri um sorriso ao ressentir o que tinha de mais especial em mim.

Um comentário:

JoeFather disse...

Nostálgico e magnífico meu amigo!

Já passei por poucas e boas, tal a narrada pelo amigo, mas não com finais tão felizes assim :)

Muito legal o texto, meus parabéns!

Abraços renovados!