Patrick abriu a geladeira e deu de cara com um ovo de páscoa que certamente era maior que a sua cabeça. Esticou os bracinhos e saiu agarrado ao grande objeto de chocolate:
-Manhêê!
-Que foi, meu filho.
-Olha o que eu encontrei na geladeira.
A mãe conhecia bem aquele embrulho, afinal carregara com dificuldade as compras e sofrera bastante para encontrá-lo em um preço agradável. Não tinha graça comprar um doce com um valor amargo:
-É seu, filho. É seu...
-E quem foi que trouxe, mãe. Foi você?
-Não, filho. Foi o Coelho da Páscoa.
O garoto de dez anos parou de sorrir e olhou sério nos olhos maternos:
-Qual é, mãe. Você acha que eu sou idiota? Por que o Coelhinho da Páscoa iria deixar um presente pra mim?
A mulher se sentiu constrangida com o argumento do filho:
-Bem, hãmmm, sei lá! Talvez por que você foi um bom menino.
Agora foi a vez do menino mostrar um certo espanto:
-Que foi, garoto? Que cara é essa?
O menino foi ficando pálido:
-Mãe. Como ele sabem que sou um bom garoto?
-Não sei como. Mas eles ficam sempre sabendo dessas coisas.
-Não é coincidência não, mãe. Primeiro o Papai Noel, agora o Coelhinho da Páscoa. Como eles sabem que sou um bom garoto?
-Não sei, filho. Não faço a mínima ideia. Por que você está sussurrando?
-Pelo óbvio. Você não percebe? Estamos sendo observados.
-Do que você está falando, menino? Mas que ideia de girico é essa?
-Para pra pensar um pouco, mãe. Tem alguma coisa de errado. Por que eles dariam "presentinhos" do nada? Alguma coisa eles querem.
A mulher colocou a mão sobre a boca em uma tentativa de esconder o sorriso bobo:
-De onde saíram essas asneiras, menino?
-A culpa é minha, toda minha. O tio Zé me alertou sobre o risco de criar um orkut. Sobre tornar a vida um livro aberto. Estamos correndo perigo, mãe. Ele invadiu nossa casa e chegou até a geladeira. Ele entrou na nossa casa, mãe.
-E se eu dissesse que o Coelho da Páscoa e o Papai Noel não existem?
-Não podemos correr esse risco, mãe. Vamos lá. Vamos colocar umas ratoeiras armadas com cenouras. Temos que nos defender. Temos que tampar aquela chaminé.
-Filho! Calma aí! Espera! Você não vai nem abrir o ovo de chocolate?
-Não podemos confiar em presentes de estranhos, mãe. Quem vai saber o que tem aqui dentro - Disse agitando o objeto embrulhado e usando-o para impedir a entrada de visitantes inesperados pela chaminé...
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